quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

ôh mãe, o amor que eu tenho por você é seu...

Uma vez a minha mãe ligou do trabalho e pediu para que eu levasse pra ela um documento que ela havia deixado em casa. Ela trabalhava no bairro ao lado, mas eu tinha nove anos e nunca tinha andado de ônibus sozinha. Eu lembro da minha mãe ter me dito - você acha que pode vir até aqui sozinha? - e eu prontamente respondi que sim. Minha mãe me deu as instruções, eu peguei o documento e saí de casa me sentindo importante. Cheguei até lá sem problemas. Eu entreguei o envelope pra mim mãe que me agradeceu e me levou pra passear pelo banco. Eu já tinho ido lá antes, mas sempre achava legal poder entrar nos lugares que só os funcionários podiam entrar e sempre gostava de ouvir um - nossa! como ela se parece com você! - quando a minha mãe me apresentava para os seus colegas de trabalho. Todas as vezes que eu ia lá eu era apresentada novamente para as mesmas pessoas que sempre diziam a mesma coisa. Mas eu achava divertido, a final eu tinha nove anos, tudo era divertido!


Bom, missão cumprida, era hora de ir embora! Minha mãe me deu dinheiro e novas instruções pra voltar pra casa e eu rumei para o ponto de ônibus. Eu entrei dentro no ônibus e depois de algum tempo eu comecei achar as paisagens estranhas e percebi que eu não conhecia nenhum lugar. Eu esperei mais um pouco e vi que quase todo mundo tinha descido do ônibus e os lugares eram cada vez mais estranhos e desconhecidos. Quando as últimas pessoas que estavam dentro do ônibus desceram eu desci também e logo percebi que aquele era o ponto final do ônibus. Fato: eu estava perdida! Dei umas voltas pelas redondezas mas tudo o que havia por lá eram vários prédios todos iguais e aquilo parecia um labirinto. Achei um orelhão, liguei pra minha mãe e lhe contei o infortúnio. Eu tentei descrever o lugar pra ver se ela conhecia e poderia me tirar logo de lá mas não, ela também não fazia a menor idéia de onde eu estava. Eu estava numa esquina e vi a placa da rua e li o nome pra minha mãe, mas ela ficou na mesma. Minha mãe mandou eu chamar alguém com cara de confiável que estivesse passando pela rua pra falar com ela. Eu chamei uma garota quase da minha idade, talvez um pouco mais velha, que estava andando de bicilceta por ali. A garota explicou tudinho pra minha mãe como se chegava ali. Minha mãe me disse que já estava indo pra lá e que pelo amor de Deus que eu não saísse de perto do orelhão. Eu fiquei sentada na calçada com os braços segurando a pernas e olhando para todas as direções pra ver se minha mãe vinha vindo e não sabia como ela ia vir, se ela viria de ônibus, de taxi ou de carro e fiquei lá sentada por um tempo que pareceu uma eternidade. Certa hora parou uma Kombi na minha frente e o motorista era um homem que eu nunca tinha visto mais gordo. Quando ele se inclinou para trás eu pude ver a minha mãe no banco do carona e na hora pareceu que duas bolsas de vinte quilos cada uma haviam sido retiradas de cada ombro. Entrei na kombi correndo e fiquei muda. Estava triste, decepcionada comigo mesma, eu que antes estava tão orgulhosa de mim mesma e achando que tinha feito alguma coisa de muita impotância pra minha mãe, achando que daquele dia em diante a minha mãe me veria como uma pessoa responsável e confiável, tinha fracassado na primeira missão! E ainda estava morrendo de medo da minha mãe ter ficado brava comigo e de ter uma enorme bronca me esperando quando chegasse em casa. Eu estava com tanta vergonha que eu permaneci com a cabeça baixa e não quis encarar a minha mãe. Mas ela estava com o braço em volta do meu ombro e ela disse - filha, você está com vontade de chorar? Pode chorar se você estiver com vontade. - e então eu acomodei minha cabeça no seio da minha mãe e voltei pra casa num choro silencioso.

Só depois eu fui me dar conta de que a minha mãe também não conhecia o dono da Kombi e só depois minha mãe me contou o lado dela da história. Ela disse que ficou muito nervosa quando soube que eu estava perdida e saiu do trabalho correndo. Mas não passava nenhum bendido taxi pra levá-la até mim. Ela saiu perguntando nos comércios como se chegava lá, qual ônibus pegava e tudo mais, mas nenhm ônibus passava e ela pegou um ônibus que só ia até a metade do caminho e depois ia pegar outro. Quando ela desceu nessa metade do caminho o outro ônibus que ela deveria pegar também não passava nunca e ao lado do ponto de ônibus estava chegando uma Kombi numa casa na qual havia um garoto esperando o motorista da kombi com a garagem aberta. Minha mãe perguntou para o motorista se ele conhecia o endereço anotado no papel e quase antes dele dizer que sim a minha mãe já tinha entrando dentro da kombi contando a história da filha perdida e praticamente ordenando que o cara fosse com ela me buscar. Ainda bem que o homem era solidário e o fim da história vocês já sabem.

O que eu não sabia e fiquei sabendo há alguns dias atrás, quando essa história estava sendo relembrada, é que a minha mãe disse que nesse dia estava sentindo uma dor e um desespero que ela nunca tinha sentido antes na vida, e que ao me encontrar estava sentindo uma enorme vontade de chorar e de gritar e de me abraçar, mas ela viu que eu eu também estava muito nervosa e então sacrificou o seu choro pelo meu.












6 comentários:

Anônimo disse...

bonita bonita!
ai que lindo isso aqui.
ADOREI. vou sempre aparecer tá?
beijo

M´ (Emilinha!) disse...

Aah! Que bom que gostou! Volte mesmo! =D

Mari disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mari disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mari disse...

ahhhhh lindo mesmo concordo,amor de mãe é tudo,mãe é tudo,se não fosse pelo nosso pais não estariamos aqui e isso é um sinal que viemos aqui na terra com uma missão de cuidar um do outro,ou seja,de cuidar deles,os nosso pais pq eles são a nossa riqueza mais preciosa nessa vida
adorooo vc florr

M´ (Emilinha!) disse...

é verdade mari, e é bom dar valor enquanto os temos. mas as vezes eu acho que eu falo nisso...

beijão flor, também adoro-te!